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domingo, 29 de abril de 2012

O Artista

Ouvi alguns comentários de pessoas que assistiram ao filme “O Artista”, de Michel Hazanavicius, e para meu espanto, muitos estavam decepcionados pelo simples fato de ele ser mudo e em preto branco. “Não merecia o Oscar”, disseram. Ledo engano. O filme, vencedor do Oscar 2012, tem como protagonistas: Jean Dujardin, no papel do galã do cinema mudo da década de 1920, George Valentin; Bérénice Bejo interpretando Peppy Miller, a estrela do inovador cinema falado - “as pessoas estão cansadas de atores velhos fazendo caretas... abram espaço para os novos”, diz a personagem em uma das cenas; e o encantador Uggie, um cão da raça terrier que deverá, inclusive, ganhar biografia própria.

George Valentin e Uggie levavam a
platéia ao delírio
A beleza de “O Artista” está, justamente no fato de, em plena século 21, a era da tecnologia, da tridimensionalidade, um filme rodado em preto e branco, e mudo, encha os olhos da Academia. E detalhe, sem nenhum beijo cinematográfico, apesar do clima de romantismo que encobre as cenas entre George e Peppy. A história do filme tem início no ano de 1927, em Hollywood, quando George Valentin, astro do cinema mudo encontrava-se no auge de sua carreira. Ao lado de seu cão, que também atuava, lotava os cinemas e levava a plateia ao delírio. Época em que os homens iam ao cinema de terno e gravata, a trilha sonora era tocada, ao vivo, por uma banda que ficava nas proximidades da tela e, após o filme os astros saiam detrás das cortinas para receberem, ao vivo, os aplausos dos espectadores.

Quem era aquela moça?
Em uma dessas apresentações George esbarra acidentalmente em uma fã, Peppy Miller, uma jovem moça que tencionava a carreira de atriz. Mediante os flashs da imprensa o casal é fotografado com a moça dando-lhe um beijo no rosto, o suficiente para alardear o mundo real e virtual: quem era aquela moça? Com o avanço da tecnologia o cinema começa a mudar e o mundo exige som e voz nas telas, o que deu início à queda de George Valentim e à ascensão de Peppy Miller.

Uggie, companheiro fiel.
Envolto ao seu orgulho George recusa-se a aceitar a voz no cinema. Com isso seus filmes e seus sucessos vão sendo esquecidos, e ele perde a alegria de viver. Cada vez mais decadente, conta apenas com a fiel amizade de seu motorista Clifton, vivido por James Cromwell, o inesquecível Sr. Hogget, de “Babe o porquinho atrapalhado”, e Uggie, o cãozinho que rouba a cena nas duas vezes que tenta salvar a vida de seu dono. Peppy Miller, ao contrário de Valentin, vê sua carreira crescer cada vez mais, e torna-se uma grande estrela de Hollywood, mas não esqueça onde tudo começou e da pessoa que lhe estendeu a mão. Em várias ocasiões ela tenta ajudar George que, mais uma vez, deixa seu orgulho falar mais alto.

E assim, o filme vai se compondo, com belíssimas fotografias, dignas da era de ouro do cinema e da fotografia em preto em branco. Mesmo com todo o modernismo tecnológico, as imagens em 3D e os efeitos cada vez mais especiais da nova era cinematográfica, vale a pena render-se ao mudo e descolorido filme “O Artista”. 

Trailler: O ARTISTA (2011)