A questão sobre suicídio afeta a qualquer um de nós. É emocionalmente muito forte, mesmo que não se conheça a vítima. Também gera muita curiosidade sobre quem era ele ou ela? Tinha problemas? Por que fez isso? O fato é que, se o ato gera comoção e sofrimento a estranhos, imagina à família e aos amigos.
Esta semana, novamente iniciou-se, com uma informação, enviada per um aplicativo de celular, sobre um suicídio, uma professora. “Uma ótima professora”, dizem alguns. Sim, uma ótima professora que sabia esconder muito bem seus sentimentos, sua dor, sua agonia. Que não teve a oportunidade de se abrir, de conversar com alguém. Não necessariamente porque ninguém a quisesse ouvir, mas porque assim são os suicidas. Fecham-se em seus sofrimentos, em suas depressões, em seu próprio mundo de rejeições e insatisfações. A vida para eles não faz sentido e isso, quando é percebido, é visto pelos que se encontram ao seu redor como natural, mas na maioria das vezes passa despercebido.
Assim como essa professora, outros jovens, maridos, esposas, mães, chefes de família também cometeram esse ato, neste ano, chocando a muitos de seus amigos e parentes que sequer imaginavam tal hipótese. E, apesar de estarmos no mês de setembro - também chamado de setembro amarelo - mês que intensifica a conscientização da prevenção ao suicídio, as notícias não são boas. Os índices estão aumentando e, segundo fontes extraoficiais, do ano de 2015 para 2016 dobrou-se o número de casos de suicídios em Rondônia e em 2017 já ultrapassa os 100% o número de pessoas que cometeram tal ato. Todas pessoas “de bem” que, “sem motivos”, deram um fim ao seu sofrimento (será?).
Apesar de esses casos serem propagados abertamente, pelos internautas, nas redes sociais, por que os suicídios não são relatados na grande imprensa? Porque há um consenso ético, uma espécie de acordo moral que determina que, por respeito à dor e à privacidade da família, suicídios não serão noticiados.
Vanessa Canciam, que em 2003 já abordava o tema suicídio e ética jornalística, publicado no site do Observatório da Imprensa, relata a preocupação de que o “qualquer notícia sobre o assunto pode vir a ser o estopim de uma série de outros atos semelhantes.” Entretanto, isso não é fato comprovado e nem existe consenso entre profissionais de saúde quanto à influência da mídia no estímulo ao suicídio. Para ela, “não há consenso sobre o assunto. E, ainda que tal consenso existisse, não seria correto utilizá-lo como único parâmetro para guiar a cobertura da imprensa.”
Por outro lado, em um de seus editoriais, o Gazeta Brasilian News alega que “O jornalismo não existe somente para noticiar fatos. Seu papel vai além – o de informar no sentido de instruir a população, de construir uma forma de pensar e proporcionar um compartilhamento de informações e experiências, promovendo debate e maior compreensão sobre temas sociais.” Entretanto, opta por não divulgar casos de suicídios alegando que “apesar de serem recorrentes na sociedade, em respeito ao jornalismo e a ética, não divulgamos tais casos, exceto em situações particulares, pela notoriedade dos envolvidos ou pelo interesse público das razões que o levaram ao ato.”
Por Wania Ressutti
Abaixo os artigos mencionados. Vale a pena conferir
Imprensa e suicídio, uma abordagem ética e técnica
por Vanessa Canciam / Observatório da imprensa
O suicídio e a ética jornalística
Editorial do Gazeta Brazilian News
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